25 Janeiro, 2025

Época Heróica

A aristocracia britânica está muito ligada aos princípios da arte pugilística. Desempenhou o papel de protectora dos «boxeurs» e, era de bom-tom, nessa época do fim do Século XIX, que o senhor duque ou o senhor conde tivessem sob a sua protecção, um pupilo que tivessem descoberto. Os amplos parques das ricas propriedades acolheram muitas vezes os pugilistas, de modo que a polícia não pudesse perturbar o desenrolar do combate, o que falsearia as apostas. De facto, a posição do boxe em relação à autoridade, era bastante ambígua. Oficialmente o boxe era proibido, não como uma actividade em si, mas porque perturbava a ordem pública, devido aos ajuntamentos mas, no entanto, beneficiava da protecção das gentes da alta (gentry), que era então a classe dirigente do país. Este apoio foi capital para o desenvolvimento deste desporto. Pode mesmo dizer-se que é inconcebível pensar que sem o apoio dos lordes, os abomináveis combates a punhos nus, dignos das arenas romanas, pudessem, em 15 anos, tornar-se numa verdadeira instituição nacional. A acção destes, não se limita, no entanto, aos apoios aos pugilistas. Fazem garantir, também – com todo o peso dos seus nomes – a lealdade dos combates. Muito naturalmente, a expansão e a seriedade da nova codificação editada como reacção contra as «Rules» em vigor, foram asseguradas por um deles – o Marquês de Queensbury.

Assim, as regras definitivas do boxe adoptadas em Inglaterra em 1891, apadrinhadas por um marquês, foram adoptadas universalmente,
O ano de 1891 marca, portanto, o nascimento oficial do boxe inglês.

As novas regras traziam vários pontos fundamentais e, sobretudo, punham fim ao boxe a punhos nus, por tornar obrigatório o uso de luvas de coiro de 4 onças (As luvas vulgares foram, por vezes, utilizadas na segunda metade do Século XIX. As luvas de 2 onças foram abolidas em 1903). Tais luvas, eram já usadas há mais de um século, nos treinos. A sua introdução nos ginásios, esteve ligada à fundação de academias que eram frequentadas por nobres jovens e por militares. Ao contrário do «cesto» grego, a luva tinha por fim a protecção dos adversários, como aliás, já se referiu. Por um lado, elas mantêm a mão do socador, que agarra o cabedal, bem fechada e isso evita muitos acidentes de origem nos metacarpos. Defende a pele de esfoladuras e, também, a cabeça dos metacarpos. Por outro lado, diminui a tumefacção da carne, após os golpes. No que respeita à violência dos golpes, esta não é, por assim dizer, diminuída pelo tampão que o couro e o enchimento constituem uma luva de tão fraco peso. Outras das inovações contidas nas regras do marquês de Queensbury, é a divisão dos combates em períodos rígidos de três minutos, com um minuto de intervalo, entre eles. Em princípio, o número de assaltos estava limitado a vinte, mas, ainda durante muitos anos, foi comum a duração ser estabelecida por acordo, ignorando-se o princípio estabelecido. É bem evidente que a alternância de três minutos de combate seguida de um de repouso, favorece os pugilistas porque lhes permite manterem um certo ritmo  – podem recuperar forças entre dois assaltos  –  em detrimento dos homens possantes mas mais estáticos. É preciso dizer que nos fins deste Século XIX, a quase totalidade dos pugilistas pertenciam a este último tipo. Enfim, partindo da observação que uma grande diferença de peso constituía uma desvantagem impossível de desfazer para o mais leve, o regulamento previa o estabelecimento de categorias segundo os pesos.

Todas estas diferentes medidas tendem a humanizar um desporto cuja prática incontrolada, é perigosa. Ao mesmo tempo favorecem a táctica, a velocidade de execução, o aperfeiçoamento desportivo e a estética. Sob estes aspectos, a participação do Marquês de Queensbury, foi fundamental e na prática traduziu-se na aparição de uma nova geração de pugilistas.

Tínhamos deixado o boxe no momento em que a emigração para o novo continente tinha criado duas correntes distintas: a americana e a inglesa. Diante do entusiasmo suscitado por este desporto nos E.U.A., foi organizado no Estado do Mississipi um combate para o título de «Campeão dos Campeões», no dia 17 de Fevereiro de 1882. Combateram John Sullivan de Boston, contra Paddy Ryan de Nova York. Sullivan demorou 9 assaltos para se desfazer de Ryan. Desde então, os americanos passaram a considerá-lo como o campeão do mundo. Este título foi, naturalmente, contestado na Europa, onde Charley Mitchell – um inglês – levava tudo à sua frente.

  1. JOHN L. SULLIVAN

Bem dentro das tradições dos pugilistas da era dos punhos nus, Sullivan, devia a sua reputação ao seu «swing», golpe giratório semelhante aquele que se aplica com uma moca. Esta arma permitiu-lhe triunfar contra muitos adversários, por «K.O.». Após a sua vitória sobre Ryan, reinou incontestado, nos Estados Unidos da América. Em breve foi desafiado para enfrentar Mitchell – um puro produto da escola britânica. Este foi um dos últimos grandes combates a punhos nus. Graças à sua vitória em 3 assaltos, Sullivan vê ser-lhe atribuído o título oficial de primeiro campeão mundial. Este título concretiza a superioridade de maneira um pouco selvagem como os pugilistas americanos combatiam sobre os europeus, bastante mais científicos. Era bem a prova de que num boxe mal codificado, a força leva a melhor sobre a técnica. A desforra foi organizada em terreno neutro – em França – e acabou num combate nulo, pois a chuva obrigou a suspender o combate.

No dia 8 de Julho de 1889, pôs o seu título em jogo, frente a um outro rei da luta a punhos, Jack Kilrain. O combate resumiu-se a uma desordem de rua, ganha pelo detentor do título, ao fim de 75 assaltos – 3h39. O desafiante – pupilo de Charley Mitchell – jazia no solo, num estado lastimoso. O resultado deste combate, pela emoção que suscitou, não foi decerto estranho para a entrada em vigor, de imediato, das novas regras preconizadas pelo Marquês de Queesbury. De facto, o combate Sullivan / Kilrain, despertou muito mais atenção, por se tratar do segundo e último campeonato mundial de boxe, disputado a punhos nus. Nasceu, também ali, a primeira anedota do boxe, tal como a contam as obras especializadas. Era público e notório que Sullivan e Mitchell nutriam, um pelo outro, uma clara antipatia. Por isso, Mitchell, durante todo o combate deste contra Kilrain, arreliou-o com constantes «bocas». No fim dos 75 assaltos, pode bem calcular-se a vontade com que Sullivan estava, de dar um castigo ao seu inimigo, embora o seu estado físico não fosse muito brilhante. Todavia, foi muito difícil obrigar Sullivan a sair do ringue, pois ele recusava-se a abandonar o combate, antes de pôr, também «K.O.» o «manager» de Jack Kilrain, tal como o fizera anteriormente. O interesse desta historieta, está em demonstrar o ambiente em que decorriam os combates da época.

Os louros da vitória são concedidos ao mais forte e não, necessariamente, ao melhor. Com a aplicação das regras da «Nobre Arte», a tendência inverte-se. Sullivam, intrinsecamente o mais robusto pugilista do momento, virá a pagar as despesas da mudança.

  1. JAMES JIM CORBETT

Oito anos mais novo do que John Sullivan, Corbett, veio encontrar o mundo do boxe em condições bastante diferentes. Não começou a sua vida como operário fabril, mas sim como empregado bancário. É, essencialmente, um produto de uma grande cidade. No seu caso, foi em S. Francisco que teve o seu início. Foi admitido nos clubes frequentados pela aristocracia. A sua figura e a sua simpatia natural, favoreciam-no. Comparando a sua fisionomia com as rugosas faces dos seus adversários, simbolizava o academismo e a educação. Como não possuía grande poder de golpe (em 23 grandes combates apenas conseguiu ganhar 14 por «K.O.»), foi escolhido como candidato frente a John Sullivan, para a disputa do primeiro campeonato mundial de «pesos pesados», disputado com luvas de 4 onças. O combate foi organizado em Setembro de 1892, na cidade de New Orleans, no Estado do Mississipi. Para o público, não havia qualquer possibilidade de engano, pois os participantes no combate, definiam duas personalidades absolutamente distintas. De um lado, o mau – John Sullivan – o poder físico, a força de golpe, a raiva; do outro , o bom – James Jim Corbett – o estilo, o físico, a juventude. Porém, por trás deste maniqueísmo de fachada, é preciso descortinar o embate de uma era que acabava e, da qual, John Sullivan é o mais fiel representante e, de uma que se iniciava. A do boxe académico. No quadro do Sul dos Estados Unidos da América, nos fins do Século XIX, este combate ganhou uma ênfase ainda maior. Em todo o caso, o dia 7 de Setembro, foi um dia muito especial para o boxe. Dez anos depois de ter sido considerado o «Campeão dos Campeões», Sullivan foi, por sua vez, derrotado por «K.O.» ao 21º assalto. Abriu-se, então, uma magnífica carreira internacional ao novo campeão do mundo, que andou de sucesso em sucesso. Participou em «tournés» de exibição e combateu, quando se dignou a fazê-lo, com a multidão sempre a acarinhá-lo, porque se diferençava claramente dos Sharkey, Mc Vey, Peter Jackson e Slavin, outras das primeiras figuras da categoria. Além disso, era detentor do título mais invejado, o de «Pesados». Com efeito, se os regulamentos tivessem instituído diferentes categorias a fim dos pugilistas se baterem com homens do mesmo peso, não haveria a menor dúvida de que para o espírito do grande público, o verdadeiro campeão é o detentor do título máximo, a coroa de todas as categorias. Até aos nossos dias, este carácter subsiste e a história do boxe confunde-se, mais ou menos, com a dos grandes campeões de «Pesados».

A adulação que rodeou Jim corbett – e tanta era que passaram a designá-lo, sempre, pela alcunha de «gentleman Jim» – fez com que a valia dos campeões das categorias inferiores, fosse um pouco diminuída. E, no entanto, alguns destes, como o «Pluma» George Dixon, p.ex., que reinou de 1890 a 1900, na sua categoria, era de grande valor. Por ordem cronológica,  Dixon, é o primeiro da grande linhagem de campeões negros.  Todavia, apesar do seu grande talento, a sua popularidade nunca foi comparável à de Jim Corbett.

A evolução que a seguir se produziu, no sentido de uma maior velocidade de execução e de uma maior mobilidade, vai obrigar Corbett a abandonar o título mundial. O peso médio Bob Fitzimmons põe fim ao reinado de Corbett em 1897. Este desapareceu do primeiro plano, depois de ter sido distinguido como um campeão fora do vulgar. Raoul Walsh, ao fazer o seu célebre filme «Gentleman Jim», prestou-lhe uma merecida homenagem.

  1. BOB FITZIMMONS

Poderia aqui ser apresentada a questão de quais são, no boxe, as morfologias e o gabarito ideais. Para responder a Corbett – 1,82 e 84 Kgs. – Fitzimmons opunha o seu físico tão característico. Ele tornou-se, primeiro, conhecido como «Médio», categoria em que foi campeão do mundo desde 1891 – e nesse peso, o seu tronco musculoso, as suas pernas magras e ossudas, a sua extraordinária envergadura (2 m.) para a sua altura, deram-lhe grande superioridade. O desmesurado comprimento dos seus braços, permitia-lhe desferir um «uppercut», ficando o braço a formar um U perfeito. Quando desafiou James Jim Corbett, a sua diferença de peso de 8 quilos, era compensada por uma envergadura superior, ao serviço de uma maior habilidade. Era, portanto, na relação peso/mobilidade, que se poderia perceber a superioridade do «challenger». A diferença de poder de golpe entre os dois pugilistas, não era suficientemente grande para travar a agilidade de Fitzimmons. Neste tipo de combates, as possibilidades do mais leve residem, geralmente, no seu desenvolvimento rápido, antes que o cansaço venha angilosar os membros. Logo que este se começa a fazer sentir, o factor poder físico, torna-se predominante. Ao 14º assalto, Fitzimmons estoqueia Corbett e o título passa da América para a Inglaterra. De certa maneira, era a desforra da escola inglesa sobre a americana. Portanto, poderá concluir-se que as dimensões ideais são as do pugilista britânico? A pergunta continua sem resposta porque, neste campo, é na relação entre todas as características dos combatentes que se situa a chave da vitória e não em qualquer uma delas, em absoluto. e se os argumentos do inglês foram operantes frente a um Corbett, mesmo assim, são-no relativamente. Nessa época, alguns técnicos acreditaram que o elemento peso podia passar para segundo plano e, esta crença era alicerçada pela sucessão Sullivan/Corbett/ Fitzimmons, sempre favorável ao mais leve.

No entanto, o Século não iria acabar sem todos estes elementos serem colocados nos seus devidos lugares.

Dois anos após a vitória sobre Corbett, Fitzimmons viu ser designado como «challenger» ao seu título, James J. Jeffries.

  1. JAMES J. JEFFRIES

Este americano, de modesta técnica pugilística, conheceu uma ascenção rápida. Combateu pela primeira vez em 1896, com 21 anos. Apesar da sua falta de ciência, possuía um poder de golpe extraordinário. a que se apoiava, nos seus 100 quilos. Bastaram-lhe três anos – durante os quais permaneceu invicto – para chegar a Bob Fitzimmons. O combate foi organizado em 1899. Se os 75 quilos do campeão do mundo tinham constituído uma desvantagem recuperável frente a James Jim Corbett, desta vez, os 25 quilos – um terço do seu próprio peso – separava-o do jovem Jeffries. Além disso, um outro factor jogava a seu desfavor – a idade! Pode resumir-se o combate, muito facilmente, pelos dados: Fitzimmons – 75 Kg. e 37 anos de idade; Jeffries – 100 Kgs. e 24 anos de idade.

A vitória de Jeffries – alcançada por «K.O.» ao 11º assalto -, por muito lógica que tenha sido, não poderia agradar aos puristas mais inclinados a considerarem melhores as qualidades próprias do pugilista do que os dados anatómicos. Por isso mesmo, grande número de amantes do pugilismo preferem ver combates de «Leves» ou de «Meios-Médios», devido à atracção que a sua maior vivacidade proporciona. Jeffries situa-se, no entanto, na linha dos «Pesados» de grande porte, tal a impressão de poderio físico que deixou atrás de si. O apogeu da sua carreira foi em 1900, quando aceitou combater com Jim Corbett – que tentava um retorno à actividade – e que ganhou ao 23º assalto. Desta vez, não podia ser acusado de ter vencido um adversário feito de encomenda. Desta vez, venceu um autêntico peso pesado. Jeffries abandonou os ringues em 1904, invicto. Infelizmente, não escaparia à lei absoluta que determina que a plenitude dos meios tem, no boxe, um período de duração muito limitado e manchou a sua brilhante carreira com uma derrota inútil, ao tentar regressar aos ringues em 1910. Com Jeffries retirado em plena glória, os seus sucessores Marvin Hart e depois Tommy Burns, por muito hábeis e brilhantes que tenham sido, não trouxeram a este desporto qualquer originalidade para poderem ressaltar na sua história.

Em boa verdade, o combate Jeffries/Fitzimmons, absolutamente impossível de se dar segundo as normas modernas, constitui, pela sua atmosfera e pelo seu contexto, o ponto cimeiro desta época heróica.

A saída de Jeffries foi acompanhada por um certo vasio – mau! Os admiráveis «pequenotes» que foram Erne, Gans, Atell – que anunciava o fim de uma epopeia. Esta terminou com a «Belle Époque». Um último foguete de estrelas foi lançado por esse magnífico atleta que foi Jack Johnson. Ele marcou o fim do período.

  1. JACK JOHNSON

O boxe concebido como meio de promoção social, está na origem de algumas carreiras fulgurantes, embora falando estatisticamente, ela seja mais obstáculo do que ajuda. Quando o pugilista se forma num meio desesperado e consegue, pela força dos seus punhos, içar-se ao altar da glória, acontece que muitas vezes o seu comportamento não se adapta, muito bem, à nova esfera onde evolui. Jack Johnson é um claro exemplo disso. Nascido no Texas em 1878, Johnson era um pobre negro que trabalhava nos campos de algodão. E, quando em 1897 subiu, pela primeira vez, a um ringue, em nada se distinguia da multidão de negros que tentavam escapar a uma vida sem esperança. Tendo ganho boa fama na sua cidade natal, Galvestone, sabe servir-se dos anos de aprendizagem e, nos seguintes, obteve dez vitórias. Em 1902 trava conhecimento com a Costa do Pacífico e combate em Los Angeles e São Francisco e, isto é já um grande passo para o jovem pesado. Em 1903 combate em Denver, depois Boston e Filadélfia.

O êxito obtido, como que o embebeda. Com um forte sentimento racista, tende a reservar a coroa de pesados para uma cabeça de branco. E, ele tem de defrontar repetidas vezes os melhores pugilistas negros da época, pois os organizadores faziam-nos lutar uns contra os outros, reservando os combates para o título mundial, para os brancos. Para exemplo, citamos que um dos melhores pesados americanos – Joe Jeanette – no espaço de 19 meses, defrontou Jack Johnson, por 8 vezes. Mais tarde, em Janeiro de 1908, é organizado um nono combate. O campeão titular, Tommy Burns, evita cuidadosamente os quatro ou cinco melhores pugilistas do mundo. No entanto, a pressão negra torna-se tão forte que os organizadores, mesmo contra vontade, decidem-se a fazer o combate entre Burns e Johnson. Este, aureolado por um palmarés de trinta e uma vitórias por «K.O.» desde o começo da sua carreira, faz de mau e rapa a cabeça para impressionar os seus adversários, tanto pelas invectivas que lhes dirige, como pela sua alta e bem proporcionada estatura. A distância entre o trabalhador agrícola e a vedeta, é grande. As suas excentricidades são imensas e a sua menosprezante pretensão, será sem limites, depois de vencer Tommy Burns no combate para o título mundial em Dezembro de 1908. Em plena posse dos seus meios, Johnson domina o boxe pelo seu estilo cheio de raça. No plano técnico, combinava um jogo defensivo bem trabalhado, com uma consumada ciência no corpo-a-corpo. Nisso, diferia bastante dos seus grandes predecessores, que tinham estabelecido a sua reputação praticamente sobre uma única especialidade. Fala-se no soco de Sullivan, da velocidade de Fitzimmons, do poder de Jeffries, etc. A sua grande singularidade, era a de ser um pugilista completo. Esta especialidade, coloca Johnson no pique do boxe moderno. Mas, a coisa mais contrastante neste homem, parece ser a sua oposição entre o seu pugilismo inteligente e o caso social. A um boxe bem calculado e sem falhas, opõe um comportamento provocante, dentro do ringue e na vida social. Atrai o ódio dos seus contemporâneos brancos. Este parece ter sido ao mesmo tempo, a causa e a consequência da atitude de Johnson. Seja qual fosse a motivação, elas eram inseparáveis e o seu destino desenrolou-se muito naturalmente. Primeiro, procurou-se febrilmente como aniquilar este vaidoso, e, assim compreendido o seu caso, não deixa de ter uma certa analogia com o de Cassius Clay. Segundo, as suas extravagâncias e a vida dissipada, alteraram a qualidade do seu boxe. Terceiro, Johnson agarrou-se, desesperadamente, ao seu esplendor do passado, quando a hora do declínio chegou.

No que respeita ao primeiro ponto, procurou pôr-se à frente fosse de quem fosse, desde que branco e, com uma mínima possibilidade de o bater. Em consequência da clara e nítida superioridade dos pugilistas negros sobre os brancos, houve necessidade de recorrer ao velho James J. Jeffries, que não combatia há seis anos. O combate efectuou-se no Reno, em 1910 e em breve se verificou que Jeffries teria feito muito melhor em não sair da sua retirada. Apesar disso, o ex-campeão do mundo, durou quinze assaltos. Foi uma tremenda decepção para todos os que esperavam ver Johnson metido na ordem. Tiveram de esperar mais cinco anos, durante os quais Johnson queimou as suas energias à «tripa fôrra» – entre outros sítios, na alegre Paris – para poderem assistir à sua derrocada. Um campeão de mínima reputação, mas branco, Jess Willard, pôs Jack Johnson «K.O.» ao 26º assalto de um combate disputado em Havana, em 1915. Johnson tinha, na altura, 37 anos. No entanto, apesar da derrota, recusou-se a entrar na linha. Não se decidiu a abandonar o boxe que tinha feito dele uma estrela e continuou a sua carreira até aos 50 anos.

A época heróica findou com esta figura pitoresca, fruto de um contexto social especial.

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